AI DE TI!

É muito comum dizermos que não temos tempo nem para pensar. Mas será que não é necessário fazer uma pausa de vez em quando? Humberto Pazian nos conta da sua prática e como ela pode servir para avaliemos a nossa trajetória.

Humberto Pazian

Uma das coisas que gosto de fazer, quando o tempo permite, é pensar. Embora nossa mente dificilmente se aquiete e os pensamentos voem de um lado ao outro dela, não são a esses que me refiro. Gosto de fixar uma época, um caso fictício ou real, e viajar com o pensamento. Criar imagens e novas conjunções e embora no início seja eu quem determine o caminho a seguir, após alguns momentos permito que eles sigam seus próprios rumos e façam seus próprios vôos.
Pode até parecer “perda de tempo”, mas algo interessante acontece em muitos desses devaneios. Algumas ideias novas se apresentam trazendo interrogações, contrastes e outras são até bem conclusivas em suas interpretações. É como se enquanto permaneço como observador mente, corpo e alma se unem num trabalho mental (ou será espiritual?), mostrando que nada permanece estacionário no Universo, tudo vibra e se expande num contínuo movimento.
Outro dia, procurando melhorar um pouco minhas “vibrações” busquei a época do Cristo como referência e todas as informações obtidas ao longo da vida e, acredito, de outras também, foram se mesclando num passeio fantástico.
As pregações, as curas, os passeios pelas praias e os campos eram belíssimos. Imaginava as roupas com seus tecidos multicoloridos de diversos padrões de qualidade, cada qual representando a classe social vigente na época. Eram agricultores, pescadores, artesãos, soldados e muitas mulheres que traziam seus filhos para acompanhar e serem abençoados pelo grande mestre. Além dessas pessoas, “aceitas” de certa forma pela sociedade, havia outras que causavam certo asco às demais: eram os enfermos, muitos até com chagas enormes que mutilavam seus corpos, muitos ladrões que se misturavam aos ouvintes, na esperança de sentir um pouco da paz que daquele Homem emanava. E as mulheres da vida que em grande número o buscavam, porque só nele haviam sentido o respeito e o carinho que nunca encontraram e pensavam não existir…
Momentos de grande paz se fizeram presentes após essas imagens e então alguns pensamentos surgiram. O mestre sempre ofereceu uma palavra de carinho, a quem quer que fosse até aqueles considerados párias da sociedade. Mas interessante foi notar a forma dura e contundente que se referia aos hipócritas.
Há diversas passagens no novo testamento que fazem referências às advertências que Ele fazia principalmente a hipocrisia daqueles que eram representantes da religião. Isso me fez pensar muito, pois ser hipócrita significa pensar uma coisa e agir de outra forma, é ter vontade e objetivos próprios e para não ficar “mal” com os outros aceitar a vontade da maioria.
Ser hipócrita na religião, nos dias de hoje, talvez seja decorar os livros básicos, pregar nas tribunas, falar com voz mansa e cordial, ter sempre um sorriso a mostra, mas trazer em sua alma a inveja, a discórdia, o preconceito, a calúnia e tantos outros sentimentos obscuros.
Os hipócritas daquela época crucificaram Jesus, e os da nossa, o que fariam?
Em muitas ocasiões, acreditando que somos detentores da verdade, nos colocamos como guardiões dela e em nosso caso especial, defensores da “pureza doutrinária”. Na idéia nada a contestar, mas na forma sim, pois quantos ataques não são realizados sob o manto da fraternidade?
Quantos conluios não foram realizados para o “bem da Obra”?
Pois é! Isso me fez e ainda me faz pensar muito. Geralmente, esquecendo-nos da lição da “trave e do cisco” que o Mestre deixou, julgamos ferrenhamente as ações e pensamentos das outras pessoas, mas desculpando-nos e aceitando-nos como somos com grande benignidade.
Continuarei na difícil tarefa de rever meus padrões e minhas ações para que meu sim seja sim e o meu não seja não e dessa forma não seja eu mais um dos hipócritas da atualidade.
E você, tem pensado nisso?

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