150 ANOS DO PROJETO 1868

Artigo didático o do Norberto. Lembra-nos da preocupação de Kardec quando codificou a Doutrina: difundir os princípios do Espiritismo de forma clara para que eles não se perdessem pelo caminho e dessem margem a várias interpretações como aconteceu com os ensinamentos do Cristo. Nós, enquanto trabalhadores estamos contribuindo para que isso aconteça?

NORBERTO GAVIOLLE

Há exatamente 150 anos, Kardec elaborou o Projeto 1868, onde ficaram estabelecidas as bases para a unidade e difusão do espiritismo, como uma nova ciência, com precisão e clareza para evitar divergências de interpretação, para não incorrer no erro das divergências de interpretação que geraram tanta controvérsia dentro do Cristianismo.
Kardec acreditava que dois fatores contribuiriam para o progresso do espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de popularizá-la.
Ele se preocupou, também, com o ensino espírita, através da difusão dos seus princípios e do estímulo pelos estudos sérios.
Será que nós espíritas estamos imbuídos destes mesmos ideais?
Convido-os a ler a síntese do Projeto 1868, relatado na íntegra no livro Obras Póstumas.
Síntese:
Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade. O único meio de evitá-la, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mais mínimos detalhes, com tanta precisão e clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.
Se a doutrina do Cristo deu lugar a tantas controvérsias, se ainda agora tão mal compreendida se acha e tão diversamente praticada, é isso devido a que o Cristo se limitou a um ensinamento oral e a que seus próprios apóstolos apenas transmitiram princípios gerais, que cada um interpretou de acordo com suas ideias ou interesses. Se ele houvesse formulado a organização da Igreja cristã com a precisão de uma lei ou de um regulamento, é incontestável que houvera evitado a maior parte das cismas e das querelas religiosas, assim como a exploração que foi feita da religião, em proveito das ambições pessoais. Resultou que, se o Cristianismo constituiu, para alguns homens esclarecidos, uma causa de séria reforma moral, não foi e ainda não é para muitos senão objeto de uma crença cega e fanática, resultado que, em grande número de criaturas, gerou a dúvida e a incredulidade absoluta.
Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme disseram os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir. Mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de serem evitados no futuro consiste em assentar o Espiritismo sobre as bases sólidas de uma doutrina positiva que nada deixe ao arbítrio das interpretações. As dissidências que possam surgir se fundirão por si mesmas na unidade principal que se estabeleceria sobre as bases mais racionais, desde que essas bases sejam claras e não vagamente definidas. Também ressalta destas considerações que essa marcha, dirigida com prudência, representa o mais poderoso meio de luta contra os antagonistas da Doutrina Espírita. Todos os sofismas quebrar-se-ão de encontro a princípios aos quais a sã razão nada acharia para opor.
Dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de popularizá-la.
O desenvolvimento cada dia maior, que ela toma, multiplica as nossas relações, que somente tendem a ampliar-se, pelo impulso que lhe darão a nova edição de O Livro dos Espíritos e a publicidade que se fará a esse propósito.

Ensino Espírita
Um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns. Considero esse curso como de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.
Após esta leitura, estamos no caminho certo? O que fazer para não contrariar estes postulados?

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