A PARÁBOLA DO FERMENTO, O ESPIRITISMO E A RELIGIÃO

O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado. (Mt 13:33)

Quando Jesus falava nas três medidas de fermento para que a massa pudesse estar levedada, hoje entendemos que o Mestre se referia ao que acabamos denominando “as três revelações”. Na verdade foram três revoluções no entendimento espiritual: os ensinamentos de Moisés, que introduziu o culto imaterial a Deus; o advento do Cristianismo, que nos apresenta Deus sob as vestes de um Pai amoroso que rege o universo sob a Lei do Amor e, finalmente o Espiritismo, que vem consolar e esclarecer as dúvidas do espírito já maduro, apto a entender as leis morais inscritas na consciência de cada um de nós. O Espiritismo abriu para cada um de nós a perspectiva da imortalidade, o quê nos obriga a pensar o “aqui e agora” de forma bem mais relativa.

Lembro disto porque, de vez em quando, alguém me aborda para perguntar se o Espiritismo é mesmo uma religião. Outros ainda argumentam que, bastaria ao Espiritismo o estudo das questões filosóficas propostas por Kardec em O Livro dos Espíritos e o aprofundamento das pesquisas científicas. Por que precisamos da religião? – me perguntam.

Afinal, o que é e para que serve uma religião?

Santo Agostinho já nos explicava que religião é muito mais do que um sistema de ritos e doutrinas. Mas,antes de tudo , é um encontro pessoal com a transcendência a que denominamos Deus – um laço que nos une à Divindade.

A ciência é muito boa em explicar fenômenos que exigem a aplicação da lógica racional, mas a linguagem que nos leva ao sentimento de transcendência obedece a outros impulsos. A ciência não é um bom método, por exemplo, para nos conduzir à compreensão do que é Deus, porque acaba impondo limites ao entendimento de algo que excede, em essência, à realidade examinada pelo cientista.

Quando buscamos circunscrever Deus ao nosso universo conhecido, sempre esbarramos na idolatria e, neste ponto, voltamos à primeira revelação, que desmaterializou o conceito da Divindade. Deus não é um objeto de cognição, como são as demais coisas que nos rodeiam.

Ao buscarmos Deus por meio da ciência utilizamos o lado esquerdo do nosso cérebro – aquele que é relacionado à lógica, à compreensão do ambiente que nos circunda e à nossa sobrevivência.

Em contraposição, o lado direito do nosso cérebro é menos autocentrado e consegue compreender melhor as idéias abstratas. Daí, muitos o relacionarem à criatividade, ao senso de justiça, ao desenvolvimento das emoções, à poesia e à música.

A percepção da moral evangélica não se dá por meio da lógica. Para que os ensinamentos éticos alterem o nosso comportamento, eles devem ser capazes de sensibilizar o lado direito do nosso cérebro. Isto não é novidade. O Apóstolo Paulo, ao falar dos ensinamentos evangélicos, assim já aconselhava aos amigos de Corinto (II Coríntios, 7:2): “Recebei-os em vossos corações…”

Embora os dois lados do cérebro trabalhem em conjunto, é o lado direito que dispara as nossas respostas emocionais. Por exemplo, o lado direito recebe uma informação, processa o impacto da notícia e transfere o conteúdo para o lado esquerdo, que a analisa. Se formos dominados pelo primeiro impacto e não dermos o tempo necessário para que a reflexão ocorra, responderemos emocionalmente.

Na França, ainda no século XIX, ao investigar o fenômeno de comunicação com os espíritos, Alan Kardec descobriu que a resposta às questões fundamentais da existência humana não poderia prescindir da conjugação do conhecimento filosófico, científico e religioso. Cada ramo do conhecimento, de forma isolada, não poderia trazer a evolução que o mundo esperava.

Só há evolução efetiva quando o progresso científico é acompanhado do desenvolvimento moral, – ferramenta indispensável para que o indivíduo seja capaz de aplicar os conhecimentos conquistados, já preconizava Kardec.

Percebemos isto ao desfrutar de novidades tecnológicas. Não nos tornamos melhores cidadãos por conseguirmos comprar um modelo do mais novo smartphone. Ele não nos ajuda a compreender nosso papel na coletividade.

Em suas “Viagens Espíritas”, Kardec destaca que a força do Espiritismo está na seriedade dos estudos e no seu mais belo lado, a saber, o lado moral, pois por suas consequências morais a Doutrina Espírita alcançará o triunfo, asseverava.

Isto porque os ensinamentos evangélicos são capazes de nos comover, extrapolando o mero conteúdo moral. O Evangelho de Jesus nos fala ao coração, moldando nossas emoções e elevando os sentimentos. A lógica e o raciocínio, é certo, são importantes para a nossa compreensão do mundo, mas o Evangelho ativa o lado direito do nosso cérebro, falando diretamente à nossa alma e, assim, nos toca, promovendo mudanças em nossas reações emocionais. O Evangelho nos educa pelo sentimento.

Como religião, o Espiritismo busca promover a transformação moral do homem, retomando os ensinamentos de Cristo para que estes sejam aplicados na vida diária de cada um.

É nesse instante que o fermento leveda toda a massa.

GLAUCIA SAVIN

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