ENTENDENDO O MEDO

A Irene está escrevendo uma série de artigos que falam dos males que afligem a humanidade atualmente. Males esses com os quais convivemos diariamente, na família, no ambiente de trabalho, no convívio social. O medo é o tema dessa edição.

Quem nunca passou uma noite em claro porque no outro dia teria uma prova ou uma entrevista de emprego muito importante? Quem também não sentiu medo quando passou por uma forte turbulência durante um voo? Sensações como estas acontecem na vida das pessoas diariamente. Ansiedade, medo e angústia são exemplos de sentimentos que agem como sensores do cérebro e atuam em nossa defesa resguardando a nossa integridade física.

O medo é um sentimento tão antigo quanto o nascimento da humanidade. Para entender as origens do medo precisamos nos reportar à primeira célula que ao sujeitar-se a uma alteração do meio onde estava (por exemplo, aumento de temperatura, frio, redução do teor de oxigênio, modificação da salinidade ou da acidez, etc…) cessou temporariamente suas atividades vitais, ou seja, imobilizou-se.  Um protozoário ou algas unicelulares sofrem inibição (suspensão de seus movimentos) em resposta ao impacto de um agente externo perturbador.  Pode-se afirmar que aí está a origem da faculdade instinto cujas reações visam preservar a vida.

Poderíamos definir o medo como uma profunda ou vaga inquietação que nasce de uma situação real ou imaginária.  As variações da tensão causadas pelo medo são individuais, podendo ir do mais leve tremor interior ao verdadeiro pânico.  Observam-se alguns medos mais frequentes tais como: medo de falar em público, de tomar decisões, medo de intimidade, de envelhecer, de ficar sozinhos, medo da morte, medo de amar e outros.

A sensação do medo remete-nos diretamente a situações de confronto ou fuga, como também uma perda de contato com nós mesmos gerando pensamentos e emoções negativas que, por sua vez, geram ainda mais medo.  Nossa mente cria mecanismos de defesa diante de situações que não podemos ou não sabemos como entender.

Esses mecanismos são a imaginação, a ansiedade, as preocupações.  É como se ao preocuparmo-nos com a situação da qual não temos controle, pudéssemos controla-la através de nossa ansiedade.  Mas, ao invés disso deparamo-nos com o sentimento de insegurança que acaba por provocar o medo.

O medo é uma energia sutil que desestabiliza nossos níveis mais profundos: físico, psicológico e espiritual.  Causa uma situação de desarmonia diante da vida, levando-nos a um angustiante sentimento de solidão que não nos deixa agir positivamente perante os problemas.

Aprendemos a conviver com nossas dificuldades como aprendemos a dirigir, dançar, escrever, viver.  Para uns é mais fácil, para outros, mais difícil.

O importante é não fugir, mas, entendermos este sentimento que nos desperta.  O caminho é descoberto através do autoconhecimento que nos leva direto às nossas mais profundas necessidades, sem negação ou culpa.  Essa descoberta da essência nos faz descobrir também os condicionantes traumáticos que se originaram em muitos momentos do nosso passado, principalmente na nossa “criança interior”, ou seja, na infância.  São esses condicionamentos ou programações negativas, que fazem os circuitos emocionais (inconsciente) e neurais (fisiológicos) de medo dispararem quando menos se espera, e às vezes sem controle, como no caso do distúrbio do pânico.

Em geral os medos mais comuns podem ser facilmente trabalhados através da autoconfiança interior.

O primeiro passo é reconhecermos os nossos medos, que significa antes de qualquer coisa crescimento e autoconhecimento.

Significa também identificarmos a fonte emocional de nossas dores. Por exemplo: atrás da dor da culpa existe o medo da punição (sentimos medo de sermos punidos por algo que acreditamos ter feito errado, então um forte sentimento de culpa se instala). “Puxa, se eu não tivesse feito isso, não estaria nessa situação”. Por trás da vergonha está o medo do julgamento. “Meu Deus! E agora o que os outros vão pensar de mim?”.

Para começar com o seu processo de auto aceitação não conte em demasia com o lado racional, não faça julgamentos.  Apenas, permita-se ter o sentimento, mesmo que ele seja apavorante, e procure expressa-lo suave e continuamente, até ele já não mais pertencer a você ou machucar-lhe.

Respire, sinta, viva.  Deixar que o amor incondicional que habita o mais profundo do ser flua e preencha a vida com plena e sincera alegria por simplesmente estar vivo.

A luta contra o medo está na ação confiante e inteligente: em procurar o cumprimento dos deveres, ainda com “medo” deles, em esclarecer-se pelo estudo, em espiritualizar-se, procurando o apoio do Alto; o auxílio da psicoterapia etc..

Infelizmente não podemos viver sem o medo.  Ele é o limitador e organizador da vida.  Sem ele colocaríamos em risco nossa segurança e a dos outros.  Assim, o problema não é o sentimento do medo, mas a intensidade desse sentimento e a forma como nos relacionamos com ele.  É muito importante não negarmos o medo, caso contrário ele se transformará em neuroses difíceis de serem tratadas, como a depressão, a ansiedade fóbica, dores físicas inexplicáveis e o próprio distúrbio do pânico – uma das formas mais crônicas do medo como doença.

Irene Gaviolle

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