O AMOR É UM SENTIMENTO ÉTICO

Achei esta frase nas minhas anotações, à margem de um livro de Emmanuel (sim, eu escrevo nas margens dos livros).

Para mim, a frase faz todo sentido, mas pensando em como explicaria isto para alguém, achei que devia escrever a respeito.

O que é a ética, afinal? Para simplificar muito, poderíamos dizer que é a ciência que nos auxilia a agir de acordo com os nossos valores superiores. Ela é diferente da moral porque não busca agir sobre o outro, mas sobre nós mesmos. A moral visa o estabelecimento de regras de conduta em uma sociedade, dentro de um determinado contexto. A ética, não. Ela nos obriga a uma reflexão sobre a nossa conduta diante de nós mesmos.

Meu marido costuma dizer que “ética é ética quando dói no bolso”. É um bom jeito de começar a praticar.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec nos traz o Amor como uma Lei Moral, conjugada com a Justiça e a Caridade, nos mostrando que todas essas virtudes são inseparáveis. Não dá para ser amoroso sem ser justo ou caridoso. O Amor faz transbordar a Justiça e a Caridade.

Quando falamos em Justiça, a primeira coisa que nos vem à mente é o julgamento. Podemos elencar vários critérios de Justiça criados por nós mesmos e, portanto, de julgamento:

Me lembro das aulas do querido Professor Celso Lafer, nos explicando os critérios materiais de Justiça, fundado na doutrina de Perelman[1]:

  • A cada qual a mesma coisa
  • A cada qual segundo seus méritos
  • A cada qual segundo suas obras
  • A cada qual segundo suas necessidades
  • A cada qual segundo sua posição)
  • A cada qual segundo o que a lei lhe atribui

Qual critério você usaria para julgar alguém? Não pense em certo ou errado. Escolha o seu.

Pois bem! O critério que você aplica ao julgar os outros é o mesmo que você aplicará a você mesmo quando desencarnar e se confrontar com os seus erros e acertos. Portanto, cuidado ao sair por aí julgando todo mundo. Como Jesus já nos ensinou, “com a mesma medida que medirdes, sereis medidos” (Mt, 7:2). Simples assim.

Os adeptos da justiça implacável, desta maneira, devem ter cautela.

É, exatamente, neste ponto que a Justiça se liga ao Amor e à Caridade.

Se ao invés de julgarmos aos outros, entendermos que estamos todos no mesmo plano em razão de débitos e imperfeições comuns e que precisamos da oportunidade de auxiliar para evoluirmos, tudo muda de figura. Aquele que criticamos é, na verdade, o nosso campo de prova. E ainda bem que ele está lá, nos cutucando para nos lembrar o que é mesmo que viemos fazer aqui, neste planeta tão desafiador.

Sem “o outro” não tem teste, como diria meu amigo Passarinho!

E, quando deixamos de julgar o outro para entendermos o que a vida demanda de nós, passaremos a praticar o Amor, que é um sentimento independente de qualquer julgamento. É um sentimento que flui naturalmente do nosso coração quando estamos diante de uma situação colocada em nossa vida para nós, exigindo uma conduta da nossa parte.

Nestas situações, na conversa conosco mesmos, nos perguntamos: posso fazer alguma coisa? Se a resposta for positiva, a prova também é sua e não apenas do outro que, em tese estaria em situação de dificuldade. Trate a oportunidade com Amor.

GLAUCIA SAVIN


[1] PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito Trad. de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1996

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